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Fashionstrology: de onde vem a obsessão da moda pelos astros?

Rajneeshee, tema central da série Wild Wild Country, uma das paletas de cores mais icônicas de 2018.

A espiritualidade está na moda. É o ano do cult look. Do desfile da Gucci fall 2018 e o tema Heavenly Bodies do MET Gala 2018, até o mais novo ícone fashion do ano: Ma Anand Sheela, a ex-secretária do Bhagwan Shree Rajneesh “Osho”, figura central da seita religiosa reapresentada ao mundo na série Wild Wild Country do Netflix que, por mais controversa que seja em sua conduta ética, é inegavelmente icônica em suas escolhas estéticas. A cultura de massa tem apresentado os mais variados sinais de como as pessoas estão literalmente usando suas crenças. Não é diferente com a Astrologia.

Vetements Black Pisces Horoscope T-Shirt

Que a astrologia dominou a cultura de massa — e a sua timeline — você já sabe. O que você talvez não saiba é que a moda vem passando pelo mesmo processo. É fácil imaginar um pequeno grupo de jovens alternativos (ou fashions victims afetados) com camisetas de signos, raincoats Vetements e coturnos ao melhor estilo místico-noventista The Craft/Jovens Bruxas. Mas quando a astrolgia e o ocultismo tornam-se tema tanto de marcas de high-fashion quanto de varejistas de fast-fashion, fica evidente que se trata de um movimento mais amplo do que parece. Mapa astral e estilo pessoal talvez nunca estiveram tão conectados. Mas como e por que isso está acontecendo?

Tudo começou no natal de 2015, quando a loja de departamentos londrina Selfridges — grande termômetro de tendências — lançou as lendárias vitrines cósmicas Journey to the Stars representando os 12 arquétipos do zodíaco. Dentro da loja, consumidores se acotovelavam no Astrolounge Shop, uma sessão dedicada a cristais, baralhos de tarot e camisetas dos signos. De lá pra cá, a astrologia vem se tornando tema em diversas passarelas.

Gucci Fall 2018

Da AHLMA à Cotton Project, da Pucci à Opening Ceremony, inúmeras marcas incorporaram a simbologia dos astros e o misticismo em suas coleções. Sem falar que todas as publicações de moda do planeta agora possuem espaços de horóscopo: Astro Poets escrevendo para a Elle America, Jennifer Angel para a Harper’s Bazaar, Glamourscopes para a Glamour. A astrologia do Refinery29 inclusive ensina até mesmo a canalizar a sua energia ativista de acordo com o seu signo. De maneira geral, a astrologia caiu nas graças da mídia como uma poderosa expressão da cultura atual. Tudo isso é um reflexo da forma como as pessoas — e os estilistas — mudaram suas abordagens sobre o tema.

Você lembra de como a astrologia era representada há dez anos atrás? Ilustrações de fadas e gnomos, estampas de gosto duvidoso e paletas de cores que não iam muito além do roxo (ironicamente a cor do ano, segundo a Pantone). Hoje, a astrologia ganhou um banho de loja e incorporou uma linguagem mais cool, didática e irônica. Resumindo, mais jovem. Ok, você nunca fez seu mapa astral, mas se identifica com os textos da Susan Miller e seus 6 milhões de leitores mensais ou com os memes da Astrogretchen, simplesmente porque são formas acessíveis e divertidas de lidar com o assunto.

Ultra Violet, a cor de 2018 segundo a Pantone

É irrefutável que a internet fez com que a astrologia deixasse de ser alta costura e se tornasse prêt-à-porter. Afinal, se democratização e acessibilidade são os princípios da lógica de rede na qual vivemos, seu signo não deve ser imaculado e inacessível, como um conceito teórico que você utiliza apenas nas raras ocasiões em que você está tentando se entender. Muito pelo contrário! A astrologia pode ser acessível, mutável, ressignificada todos os dias para se conhecer melhor e conhecer o outro. Assim como as peças do seu guarda-roupas, seu signo solar ou seu ascendente são possibilidades à espera de uma nova interpretação. Ou de um novo look.

A astrologia é a promessa ideal de expressão pessoal, uma disciplina poderosa para os tempos individualistas em que vivemos: não é fácil achar dois mapas astrais iguais. Além disso, os astros mudam o tempo todo, assim como o seu estado de espírito. Em um mundo que parece fazer cada vez menos sentido, a juventude usa o zodíaco como uma forma de encontrar respostas. Ou de se abrir para novas possibilidades e interações.

Um boné com o símbolo de Touro pode ser uma forma de afirmar pra si mesmo quem você é ou gostaria de ser—ou mesmo como você está naquele momento—, além de despertar nos outros o interesse de conhecer você melhor. Assim como a moda, a astrologia provoca as emoções das pessoas e, se estamos em busca de novas expressões, o zodíaco parece ser uma linguagem cada vez mais em voga.

instagram.com/ehscapist

* André Alves

Co—fundador do Peoplestrology e da float. Escritor e pesquisador de tendências que vive entre SP e NYC, além de apaixonado por filmes, Astrologia e chás.