back

Astro-trolling

Sensacionalista

Digite “the signs as” no Google e você terá uma ideia da imensidão dos memes sobre astrologia. A tendência é ainda maior em redes mais criativas como tumblr, nos debochados grupos do Facebook à la Vênus em LDRV ou nas pérolas do Instagram como a musa millennial madama br000na.

De alguns anos para cá, o zodíaco foi memetizado pelo olhar do humor e ressignificado com invejável liberdade de expressão. Afinal, quem vai argumentar (com seriedade e textão) sobre como a foto de gatinho escolhida para representar Escorpião está “errada”? Ou usar termos antiquados como mimimi e politicamente correto para criticar memes do zodíaco?

A astrologia entra pelas beiradas, mas tem a força de uma avalanche de likes. Avança com naturalidade em diferentes meios culturais. Parece boba e inofensiva, mas tem adesão a todas as idades e realidades sócio-econômicas.

Zombar de um signo é zombar de um grupo de pessoas que não se une para se defender. É um campo mais livre, no qual a ofensa talvez não seja tão ofensiva assim. Talvez uma licença poética? Um jeito de abordar características de personalidade que pertencem a qualquer ser humano – seja ele de Leão, ou se seu ascendente for Leão, ou se ele tiver Leão na casa 8, ou, ou, ou…

Algumas pessoas são mais isso. Outras, mais aquilo.

Alguns signos são mais isso. Outros, mais aquilo.

A consistência (e imprecisão) dessas verdades é capaz de baixar a guarda até mesmo dos mais afobados, aqueles que sentem que precisam se defender de acusações das quais sequer acreditam. “Estas verdades são infundadas! Onde está ciência por trás disso?”

Pois bem, cuidado! Seria o meme o novo ato falho? – pergunta a psicanalista Natalia de Oliveira. O recalque denuncia aquilo que somos. E mais: o que somos, mas não gostaríamos de ser. E é aí que a astrologia quebra a banca.

Seria o Astro-trolling um desaforo aos limites da ética e do bom convívio social? Como qualquer outro tipo de trolagem, é possível que sim. Mas deve haver um limite para um tipo de bullying que não lida com a verdade e sim com um conteúdo de ordem supersticiosa?

* “Supersticioso? Como ousa?!” Ok, acalme-se você louca-dos-signos (sem ofensa!). Mesmo que você não considere a astrologia um conteúdo supersticioso, tenha em mente que o resto do mundo pensa o contrário.

Há um ponto a se considerar na zoeira astrológica. A diversidade aqui não se trata de uma guerra de dominação e supremacia – onde um grupo controla o outro através do domínio dos meios de produção ou por opressão ideológica. A astrologia é transversal e libertária. Virginianos são uma minoria ou maioria, em teoria, tão significativa quanto os Piscianos.

Mas qual é o signo mais injustiçado?

Qual signo sofre mais preconceito?

Afinal, do que se tratam esses signos no imaginário das pessoas?

Esse só o começo de um debate que vai revelar mais sobre nós do que sobre estrelas e planetas. O importante é lembrar que levar a astrologia à sério demais pode destruir aquilo que ela tem de mais valioso: a sua natureza instigante, o seu potencial para encorajar as pessoas a refletirem mais sobre si mesmas e menos sobre as verdades concretas do mundo.

 

* Lucas Liedke

Co—fundador do Peoplestrology e da float e psicanalista em consultório particular em São Paulo — lucas.liedke@gmail.com